sábado, 24 de abril de 2010

CAMELÔ


O delegado Carlos Antonio era um homem sério e infeliz. Casado com uma mulher que não amava mais, que não lhe dera filhos e que lhe atazanava a mente com problemas fúteis. Gostava da prostituta Roberta que o jornalista Marco lhe apresentou, no entanto não se atrevia a tocar-lhe nem um fio de cabelo. Sempre ia ao puteiro, quando a puta o via, largava com quem estivesse para lhe dar atenção e conversar. Só conversar. O delegado tentava persuadir-lhe a mente impura a largar o sexo profissional. Ela ouvia, consentia, lamentava, condoia-se e às vezes até chorava. Mas não deixava de ser santa puta. Um dia, ele resolveu comê-la, montá-la, diriam os vaqueiros num rompante machista. Diriam todos os homens suados que vendiam frutas, camelôs torcedores do ordinário tricolor baiano, taxistas hipócritas ou medíocres, tanto faz, que rodam pela São Salvador, mecânicos de máquinas de lavar que se cuspiam ao léu, sem educação doméstica. Expressão ignóbil para esses tipos. Ou estudantes angustiados com a nota final e que, sem escrúpulo, aliás, ninguém tem esse remorso fictício e, claro, isso não existe nas cabeças discentes, angariavam reais das coleguinhas que se diziam virgens mas não eram, para sua foda tranquila. Roberta lhes dava um sorriso de escárnio ao abrir as pernas, gozava somente com os estudantes. Suando a bicas, tremendo e com dor de barriga insinuante, o delegado ajoelhou-se, cheirou o sexo de Roberta. Perfumado e limpo. O delegado Carlos Antonio não conseguiu penetrar. Pagou. Constrangido e atordoado com o fracasso, ao descer e chegar na rua diante dos olhares desconfiados prendeu um camelô suspeito de tráfico de drogas e pedofilia...

Um comentário:

  1. Suscinto, claro e objetivo. Parabéns! Vocè o ESCRITOR BAIANO.

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