segunda-feira, 29 de março de 2010

ANIVERSÁRIO DA CIDADE DO SALVADOR

Salvador, a cidade da Bahia, faz hoje, 29/03/2010, 461 anos. Uma velha adolescente e aporrinhada. Escrevi um artigo e o jornal "A TARDE" publicou. Para os que não são da cidade, infelizmente ou felizmente, vai aí o texto na íntegra do jornal.

PARABÉNS, SALVADOR!


Sempre imaginei as caras de Cabral ao despontar e visualizar Porto Seguro, o capitão das naus e o escrivão Caminha na tensão do encontro de duas civilizações distintas, e a do primeiro governador da cidade de São Salvador Tomé de Souza, mesmo trazendo com ele degredados e outros bichos, a beleza da cidade deve tê-los deixados boquiabertos. Provavelmente um misto de Exu e Hermes fez abrir seus olhos e bocas em assombro. Resguardo contra estrangeiros e povoação forte para a cidade de Salvador, era o queria Dom João III.

Resguardo não há mais, povoação aos montes e barrancos também. Certo que os barrancos, foram cobertos de cimento e pedra segurando muitas vidas, mas na contramão do progresso, o transporte coletivo é uma mixórdia nojenta e mal aplicada. Dias atrás aumentaram a tarifa em surdina e os cidadãos desembolsam mais dez centavos, que foram acrescentados ao antigo preço, por um serviço imundo, sem qualidade e absurdamente caro.

Sem Cabral, Caminha e Tomé, a cidade de Salvador faz festas para os antigos resguardados estrangeiros, antigos desafetos, chamando-os e recebendo-os sem cerimônia em carnaval de camarotes que antigamente, os nativos, diga-se, sentavam-se às portas de casa para rirem e se divertirem com os caretas e os jatos de lança perfume da Rua Chile e Praça Castro Alves. Salvador e sessenta anos de trio elétrico em 2010. Lembro-me que vi pela primeira vez o trio de Dôdo e Osmar num sábado que não era de carnaval, mas antecedia o domingo de carnaval, subindo a ladeira da Montanha no ano de setenta e nove. Salvador tinha então só quatrocentos e trinta anos. Foi mágico. Eu saía do antigo cinema Glauber Rocha e me deparei com o pôr do sol refletindo raios ultravioletas e um caminhão de cores e música. O chão da praça balançou. Não havia camarotes, nem cobrança, o show foi para o povo do poeta. Tomé de Souza não fazia ideia da metrópole engarrafada com ar de turismo tropical que se transformou a cidade que governou. Salvador não é mais um porto seguro, nem abriga capitães de areia.

Parabéns, Salvador!

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