quinta-feira, 10 de junho de 2010

TEXTO INÉDITO, ESQUECIDO, ACHEI POR ACASO AGORA...

A Patroa era escritora. Ou jornalista. Talvez professora das histórias que se contam nos livros, não tinha certeza de qual ocupação aquela mulher exercia. Só sabia que ela vivia debruçada sobre livros e papéis. Pensando e escrevendo. Seu nome deveria ser Pensamento. Conhecia nomes esquisitos e difíceis. Falava ao telefone em outras línguas com uma naturalidade original de quem mora no estrangeiro. Encabulada, Lúcia chegou perto da escrivaninha em que ela trabalhava. Pescou alguns papéis, mas não entendeu nada. Contudo ficou olhando maravilhada as letras, pôde perceber com a real dificuldade de leitora desacostumada que se tratava de poemas. Pois havia em cima da mesa um papel ofício com um nome escrito bem no meio. Poesia. Lembrou-se de uma vez, lá mesmo na casa da Patroa, de um jantar oferecido. Lúcia não foi para casa, ajudou nos petiscos, bebidas e no prato principal. Era um jantar para um tal escritor de outro estado, era muito famoso e importante, pois todos o tratavam com reverências e mesuras. Ele, o escritor, não gostava de muita lambição, rapapé. Fazia careta nas costas daquele que lhe lambia as botas. Contudo uma frase que ele falou não se sabe para quem, ficou para sempre na memória da empregada.

_Mas para que serve mesmo a poesia? Para que servem esses versos que ficamos horas a pensar e depois de escritos ficamos a conversar sobre?

Não houve resposta. Houve sim um silêncio terrível. Parecia até que o jantar tinha acabado. Entretanto, logo depois à omissão sepulcral, o tal escritor soltou uns versos de Mário Quintana. Eram assim:

Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...”


Em seguida, ele mesmo completou.

_A leitura de um poema não tem ou não busca significado e provavelmente não serve mesmo para nada, contudo o leitor terá naquele momento único o prazer deleitoso de ser abraçado e amado pela palavra... Os dois amantes, o leitor e a palavra...

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